Pequenos grupos de trabalho
Atividade presencial
05/11/2022 – 14h00 às 17h15
Como será o encontro presencial?
No dia 05 de novembro, nos encontraremos para o trabalho em pequenos grupos.
O trabalho realizado nesses coletivos irá se sustentar nos textos enviados por todos aqueles que se interessarem por compartilhar breves questões ou elaborações sobre os eixos de nossas Jornadas (mais informações em Envio de trabalhos), somados às ressonâncias das plenárias que terão ocorrido no dia anterior.
Os pequenos grupos serão compostos por 10 a 15 pessoas, distribuídas aleatoriamente segundo sorteio que será realizado no momento de chegada no local, e por ao menos um anfitrião previamente definido e que estará encarregados pelos cuidados para o bom funcionamento do trabalho, conforme Ana Lucia Lutterbach esclarece abaixo:
“Nossa proposta para os Pequenos Grupos nas 29as Jornadas da EBP-Rio é receber os inscritos para um trabalho comum de leitura e comentário dos textos que serão enviados pelos colegas. Não teremos palco, nem plateia, nos distribuiremos em grupos de 10 a 15 pessoas e em cada grupo um anfitrião irá receber os convidados. Cabe ao anfitrião receber, mas ele não concede a palavra, cada um deve tomá-la de improviso, sem preparação prévia a não ser a própria formação, singular e sempre em andamento.”
Ao final, teremos um momento especial de encerramento. E durante toda a tarde, a Seção Rio da EBP, através da equipe de sua Biblioteca, também estará presente com um belo acervo de livros e revistas, novos e usados.
Sobre o trabalho em pequenos grupos nas 29as Jornadas
Por Maricia Ciscato
“Para a execução do trabalho, adotaremos o princípio de uma elaboração apoiada num pequeno grupo.”1 – essa é a proposta de Lacan, em seu “Ato de fundação” (1964), para a realização do trabalho da Escola. Algo a ser realizado num pequeno grupo e não por um pequeno grupo, destaca Miller.2 Ou seja, um pequeno grupo formulado de tal modo a provocar o trabalho de cada um de seus participantes, um a um. Um pequeno grupo – somado a mais-Um integrante, a descompletá-lo – de cuja reunião “nenhum progresso deve ser esperado, a não ser uma exposição periódica tanto dos resultados como das crises de trabalho”.3 A esse pequeno grupo, Lacan nomeou “cartel”.
Inspirados nesses princípios do que é o trabalho da Escola para Lacan, convidamos a todos para o encontro presencial das nossas 29as Jornadas. Esperamos tensionar a provocação de Lacan para trabalharmos apoiados em pequenos coletivos justamente nos pontos em que nos escaparem aos ideais. Os pequenos grupos lacanianos são grávidos de uma engrenagem denominada por Miller como uma “máquina de guerra” contra o discurso do mestre.4 Foram concebidos como um esforço de agrupar a Escola de um modo diferente ao da tendência hierárquica em que a mestria ganha destaque e os demais aí se apagam. “(…) quando Lacan funda uma Escola, ele escolheu apoiá-la nesses pequenos grupos que, através de seu trabalho, deverão lutar contra o mal-estar da identificação com o mestre.”5 Uma luta que não garante vitória, mas que permite importantes aberturas para desarticulação da lógica da mestria.6
Paradoxalmente, Lacan também concebeu esses pequenos grupos com base em uma experiência conhecida por ele na Inglaterra do pós-segunda guerra, em um ambiente em que os S1 estavam ruídos, os mestres estavam perdidos. Um ambiente em que o Ideal não tinha força para agrupar e fazer constituir os soldados em uma massa de guerra. Foi inspirado pelo que conheceu do trabalho dos psiquiatras Bion e Rickmann com os soldados desajustado da tropa que Lacan escreveu um texto precioso, “A psiquiatria inglesa e a guerra” (1945). Dele, destacamos o apreço de Lacan pelo realismo, modo como se refere a como a Inglaterra do pós-guerra se virou: com um posicionamento ético em que um comprometimento com o real estava em jogo. Essa posição diverge fortemente do irrealismo, do idealismo, da alienação ou do cinismo – e vemos como alguns desses modos de resposta têm sido tão presentes diante dos desafios nestes tempos que correm.
A aposta de Lacan é a de que os pequenos grupos em sua Escola possam ressoar aí. Segundo Laurent: “Cada um ali está em pé de igualdade diante de um trabalho a ser feito. Não se trata mais de reabilitação e de adaptação ao esforço de guerra. Trata-se de mesclar, de maneira eficaz, sujeitos, psicanalistas reconhecidos ou em formação, psicanalistas ou não, em torno de um projeto de trabalho centrado na ‘psicanálise’.”7
Propomos, portanto, um trabalho a ser feito em cada pequeno grupo que se constituirá no corpo de nossas Jornadas envolvendo a responsabilidade de cada um com a ética psicanalítica e em como operá-la na Escola, no que ela tem de mais vivo: seus desencaixes dos universais, dos ideais, e o tratamento dado ao real por cada um que ali se comprometer. Mesmo que isso seja apenas uma orientação – talvez não de toda possível de realização –, que seja uma orientação que instigue e provoque.
Seguem algumas sugestões de leitura, fontes de apoio sobre o modo de funcionamento para nossos pequenos grupos de trabalho (conferir Bibliografia Sugerida disponível no site das Jornadas):
Lacan, J. Psiquiatria inglesa e a guerra (1945).
Lacan, J. Ato de fundação (1964).
Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola.
Lacan, J. D’Écolage (1980).
Miller, J.- A. Cinco variações sobre o tema da elaboração provocada (1986).
Miller, J.- A.. O cartel no centro de uma Escola de psicanálise (1994).
Miller, J.- A. O banquete dos analistas (capítulo 1).
Laurent, É. O real e o grupo (2002).
Bassols, M. A impossível identificação do analista (2017).
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1 Lacan, J. Ato de Fundação (1964). Em: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p. 235.
2 Miller, J.-A. O cartel no centro de uma Escola (1994). Em: Cartel, novas leituras. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021, p.28.
3 Lacan, J. D´Écolage (1980). Em: Cartel, novas leituras. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021, p. 17.
4 Miller, J.-A. Idem, p.23.
5 Laurent. E. O real a o grupo. Em: Cartel, novas leituras. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021, p.43. p. 43.
6 Representada, à época da fundação da Escola Francesa de Psicanálise, pela figura dos didatas na IPA.
7 Laurent, E. Idem, p.42.