4 de novembro de 2021 | Boletim GPS

Ressonâncias da II Preparatória: O Nome do medo

Por Nina Machado

Fátima Pinheiro introduz o encontro do dia 25 de outubro com uma instigante questão: por que situar a arte nesse momento de preparatória para as Jornadas Clínicas? Pois ela é fundamental para reavivar a relação existente entre nome – os muitos nomes – e vida.

Nessa mesa preparatória, pudemos ter o prazer de escutar a artista Rivane Neuenschwander falar sobre seu enlaço com o desejo, com o medo, com a linguagem, com o singular (e os coletivos particulares que forma) e sobre muita coisa que a psicanálise nos coloca em questão, ainda que não estivéssemos escutando de uma psicanalista. O que começou como a exposição de dois trabalhos de arte visual de Rivane – Eu desejo o seu desejo e O nome do medo – foi se revelando em arte como forma de sobreviver à prosa do cotidiano, assim como a psicanálise também nos oferece em sua clínica e subversões.

Em seu trabalho Eu desejo o seu desejo, Rivane se depara com os vários desejos individuais e suas marcas como coletivo particulares. Desejos ligados a nomes. Significantes que surgem pincelados na história de cada sujeito e se encontram nas marcas que compartilham em cada país a partir do real de cada lugar. Há, nas diferentes exposições, enodamentos particulares. Não à toa a artista traz os desejos marcados em fitinhas de Bonfim que, por tradição, se realizam com três nós. De certa forma sempre nos esbarramos com nós ao falarmos de desejos.

No trabalho O nome do medo, é com as crianças que revela-se ainda mais escancarado os nomes e suas marcas. As crianças falando sobre seus medos, nomeando-os. E, ao dar nomes, usar do simbólico e do imaginário para dar conta do real. Usar da capa, com toda sua função mágica e simbólica, como objeto que vela e possibilita se haver com seus medos. Assim como a fantasia nos propõe. A artista dá a palavra às crianças. Isso tem tudo a ver com a psicanálise e com nosso horizonte de trabalho com as XXVIII Jornadas Clínicas.

Rivane recolhe, com seus dois trabalhos, os resíduos da linguagem, no que os sujeitos dizem e no não dito. Recolhe significantes. Conecta vida e nome, vida e significante, vida e linguagem. Como as Jornadas pretendem fazer.

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