29 de setembro de 2021 | Boletim GPS

Por uma transição linguística

Por Renata Estrella

No dia 18 de setembro, tivemos o prazer de receber Fabián Fajnwaks na 1ª preparatória das nossas XXVIII Jornadas Clínicas, Os nomes da vida, marcas da pandemia. Já tendo anos de trabalho na sustentação do ensino de Lacan e da orientação lacaniana também em diálogo com os Estudos de gênero, Fabián foi nosso convidado para a mesa Nomeações queer, momento em que nos debruçamos para pensar as diferentes formas de estar no mundo, que talvez apontem para os nomes da vida, ou nomes de gozo, como propôs Fabián.

Assim, visando a um debate atrelado às questões do mundo atual, pudemos retomar algumas perguntas colocadas por Fátima Pinheiro em nossa convocatória ao trabalho, como por exemplo sobre os usos que Lacan dá à nomeação e se seria possível pensá-la como suporte ao laço social, distinto da identificação. Nesse sentido, Fabián não apenas nos lembrou que a psicanálise nunca esteve do lado da normatividade, mas diferenciou a psicanálise dos psicanalistas, marcando que a ordem heteronormativa existe e que não pode mais ser ignorada. Acrescentamos ainda alguns dados trazidos por Ruth Cohen e por Cristina Frederico, já que somos o país com mais violência contra pessoas LGBT+, o que ainda aumentou mais de 40% ao longoda pandemia do coronavírus.

Fabián abriu inúmeras questões que enriquecem o nosso trabalho a caminho das Jornadas, não sem deixar indicações clínicas, lugar primordial em que se presentifica a psicanálise e a sua subversão. Nesse sentido, Fabián destacou a importância de se pensar as consequências psíquicas das inúmeras intervenções no corpo e, sobretudo, do declínio do simbólico que tem feito preponderar, cada vez mais em nossa época, a liquidez e a metonímia, em um fluxo sem parada e, como se escuta na clínica, sem paz. Próximo ao artista André Azevedo, que nos presenteou com a arte deste ano, em que se lê ‘texto quer dizer tecido’ sendo datilografado, letra a letra, tal como se enoda um tecido, Fabián propõe a ideia de uma transição linguística; que possamos, então, tecer outros, novos textos.

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