29 de setembro de 2021 | Boletim GPS

Nomeações Queer – Ressonâncias

Por Andréa Reis Santos

No dia 18 de setembro, aconteceu a primeira preparatória para as XXVIII Jornadas da EBP Seção Rio e ICP-RJ em torno do tema das Nomeações Queer, com uma conferência de Fabián Fajnwaks e uma ótima conversa a partir das questões trazidas pelas debatedoras Angélica Bastos, Cristina Duba e Cristina Frederico, além de outros colegas da Seção.

Tomando emprestado a imagem forte do vídeo arte ‘Texto quer dizer tecido’, de André de Azevedo, que circulou no GPS #2 e que tem o mérito de dar o tom das próximas Jornadas, eu diria que esse evento incluiu no tecido das Jornadas pelo menos duas linhas mestras da maior importância, dois fios de espessura diferentes que se cruzam não sem um certo embaraço. De um lado, o tema da nomeação, que dá título às Jornadas e é familiar ao nosso campo, e de outro, o tema difícil e polêmico dos discursos Queer e suas ressonâncias na multiplicidade que inclui os estudos de gênero, a questão trans,o movimento LGBT+ e afins.

Nomeações Queer é um tema ousado que nos convida a não recuar diante do emaranhado de mal-entendidos que têm atravessado a conversa entre esses dois campos: o da psicanálise e o dos estudos de gênero. Conversa difícil, mas extremamente necessária se tomamos a multiplicidade de discursos que se abrigam sob o prefixo Trans como paradigma da fluidez dos nossos tempos.

A conferência de Fabián Fajnwaks ajuda a desembaraçar alguns nós à medida que vai separando certos pontos de convergência e de possível aproximação daqueles que envolvem uma tensão impossível de eliminar. Convergimos quando assumimos que não há nada mais queer do que o próprio gozo ou quando nos afinamos com a perspectiva anti-segregativa dos discursos Queer ao promover e autorizar múltiplas formas de gozo. Fabián nos faz lembrar que é assim que sonhamos com a Escola de Lacan: como um espaço onde esparsos desbaratados coabitam para procurar trabalhar juntos sem impor aos outros uma forma de gozo, de modo a fazer existir a psicanálise e, se necessário, reinventá-la de acordo com as mutações da civilização.

Tarefa nada fácil quando levamos em conta a defasagem que há entre a doutrina da psicanálise e os analistas, que só se contam um a um. Como bem disse Fabián, se por um lado não há dúvida de que nada na doutrina da psicanálise nos autoriza a uma abordagem normativa, por outro, não há nenhuma garantia de estarmos, enquanto analistas, imunes aos preconceitos e ideais que atravessam nossa escuta. Não há garantia de estarmos à altura do ato, do que a psicanálise nos ensina. Temos muito o que aprender.

Estes foram apenas alguns dos fios que a conversa do sábado, com seus muitos tecedores, acrescentou à trama que vai se produzindo em direção às Jornadas. Muitas outras questões surgiram e, por isso, recomendo que assistam na íntegra ao vídeo da preparatória, para que cada um procure localizar ali as pontas soltas que o trabalho tecido na conferência e no debate pode ajudar a entrelaçar.

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