12 de agosto de 2021 | Boletim GPS

Lançamento das XXVIII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP RJ, ‘Os nomes da vida: marcas da pandemia’

Fátima Pinheiro
Coordenadora geral das XXVIII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP RJ.

 

 

A frase: “texto quer dizer tecido”[1], ressoa no trabalho do artista André Azevedo, escolhido para lançar nossas XXVIII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e ICP RJ: “Os Nomes da Vida” – marcas da pandemia”, a serem realizadas nos dias 26 e 27 de novembro, e que tenho a alegria de coordenar, a convite da diretoria da EBP-Rio. As Jornadas da EBP-Rio e ICP RJ são tecidas em série, ano a ano, com os fios e os nós que enlaçam nossa comunidade, nos permitindo resgatar o inconsciente em sua qualidade de experiência política. Neste momento brasileiro, em que se verifica um genocídio em curso, afetado pela segregação que promove ódio ao diferente: povos indígenas, população negra, pessoas LGBT+ – cujas vidas se encontram muitas vezes ameaçadas –, os convido a tecer essas Jornadas, apostando na vida e seus nomes, com a força do desejo de cada um: membros, cartelizantes, participantes de Núcleos de pesquisas do ICP, alunos do ICP, com suas produções, a partir de casos clínicos, intervenções, textos, conversações etc. Convoco cada um a fazer existir a psicanálise, ao testemunharem sobre seu desejo, transformando-o em causa.

Essas Jornadas trazem o número romano XXVIII da série, número esse que localiza “a que ponto chegamos” – frase e imagem do cartaz –, de autoria do artista André Azevedo, de onde parte nosso boletim .gps, que nos orientará a traçar o percurso e nos dirigirá a uma via e a um fazer Escola, um por um, mais uma vez: vinte e oito vezes.

um, nessas Jornadas, se distingue da série e, ao mesmo tempo, a enlaça, introduzindo uma marca que remete à singularidade da letra – dimensão cara à orientação lacaniana – e implica um forçamento para incluir-se no tecido significante e promover as significações que daí decorrem, de onde se extraem “os nomes, aquilo que, em sua natureza radical, é da ordem da letra que já está lá antes de ser lida”[2], como formulou Lacan.

Sim, texto quer dizer tecido, porque um texto se tece, se entrelaça, tal qual a tessitura do inconsciente, onde o parlêtre está implicado, a partir da letra, que será lida por meio dos significantes, constituídos a partir de restos, pedaços, em que a unidade do sentido nem sempre está presente. O título de nossas Jornadas, sobretudo, nos instiga a perguntar sobre as modalidades de nomeações utilizadas nos mais variados textos e contextos articulados à experiência analítica, e/ou que podem ser lidos como sintomas da época. Isso faz que fiquemos atentos às invenções e às maneiras com que cada um se vira diante do nome, do inominável, do anônimo e do sem nome que os habita e embaraça.

Convidamos para o lançamento de nossas XXVIII Jornadas, Fabián Naparstek, AME da EOL e membro da AMP, ex-AE (no exercício de 2002-2005). Ele é também doutor em Psicanálise pela Universidade Paris VIII e Professor Adjunto Regular da Universidade de Buenos Aires (UBA) – um querido colega que já esteve conosco na Seção Rio – a quem agradecemos a presença hoje e damos boas-vindas.

Para as duas preparatórias às XXVIII Jornadas, que realizaremos em setembro e outubro, respectivamente, foram convidados Fabián Fajnwaks, psicanalista membro da AMP, e Rivane Neuenschwander, artista plástica. Já para as Jornadas, propriamente ditas, que se realizarão nos dias 26 e 27 de novembro, contaremos com a presença de Micquel Bassols, Ailton Krenac, Cao Guimarães e Paola Cornú.

Aos que participam da construção das Jornadas: a diretoria da EBP-Rio: Ruth Cohen, Ana Beatriz Freire, Maricia Ciscato, e Cristina Frederico e do ICP-RJ: Márcia Zucchi, o cartel de coordenação composto por: Thereza de Felice, Patrícia Paterson, Leonardo Miranda e Cristina Duba –(mais um), aos coordenadores da comissão científica: Maria Inês Lamy e Adriano Aguiar, e aos demais integrantes das quatro comissões: científica, infraestrutura, tesouraria, e mídias, e a todos os que estarão envolvidos nessa experiência comum na Escola, agradeço por aceitarem este desafio e os convido a colocar em ato a perspectiva que J. A. Miller situa ao retomar o significante “obra”, recolhido do Relatório de Roma: “aquilo que implica o fazer do sujeito, sua ação: tempo em que o resultado não permanece em sua interioridade, mas se conclui no exterior”[3].

Elaborar uma experiência comum na Escola, nos permite fazer do tempo em que vivemos uma oportunidade de trabalho, uma obra em série, uma possibilidade de inventar um lugar digno de enlace com outros, apesar das condições adversas pelas quais estamos passando. Porque nunca o chamado à vida foi tão urgente. Obrigada.

 

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[1]. Barthes, R. O prazer do texto. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1987.

 

[2]. Lacan, J. (1961-62) O seminário,  Livro 9: a identificação. Inédito.

 

[3]. Miller, J.A. “Ponto de Basta”. In: Opção Lacaniana, nº 79, jul/2018, p.36.

 

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