25 de agosto de 2021 | Boletim GPS

Editorial Boletim .gps #06

Ali onde faltou um S

Por: Larissa Pinto e Melissa Bottrel

  

Eu sempre guardei nas palavras os meus desconcertos.

Manoel de Barros

Em .gps#4, o nome de Fabián Naparstek foi ao ar com algumas variações das letras s e r. Ali onde faltou um s, sobrou um r... Letra em excesso, letra em falta, letras que ficaram fora do lugar, fazendo surgir o equívoco. Não se trata de um equívoco qualquer, principalmente em uma Jornada que nos convida a pensar sobre os nomes e suas marcas. Como desenvolve Lacan no Seminário 23, o nome é criado ali onde opera a falha do real.

Fátima Pinheiro, no .gps#4, cita um trecho da música de Arnaldo Antunes para destacar a articulação do nome com o impossível de dizer. Se de um lado o nome faz ex-sistir e opera na falha do real, o nome não é a coisa, há hiâncias, intervalos… Uma letra contingente foge, passa e nos coloca a trabalho. Uma letra que revela o furo no nome, o furo da vida e, assim, nos convoca a inventar.

Queremos aqui, além de corrigir a escrita do sobrenome do nosso colega Fabián, marcar este equívoco e pensar a partir dele. Inventar a partir do furo, da contingência, disso que falha. Pensar a partir do que nos marca dos nomes da vida, da linha que quer escapar, se desfazer. Fazer texto, como em uma produção têxtil, assim como o artista André Azevedo nos instiga com suas obras “A Que Ponto Chegamos” e “Texto Quer Dizer Tecido”.

André, artista convidado do nosso primeiro episódio do podcast lançado hoje, é criador de alguns trabalhos que têm nos inspirado na preparação destas Jornadas. O artista nos convida justamente a pensar neste ponto e na linha que se desfaz. É necessário criar a partir do que fala, do que falha e inventar com o que se desfaz. Desfazer no tecido do texto, na voz e na presença online, que pode ser tanto da linha de uma trama, quanto da nuvem de uma rede.

Esse texto, feito a quatro mãos, é uma invenção a partir disso que nos escapa, mas é também um convite para que possamos, a cada vez, bouger, brincar, construir com os furos e equívocos, na aposta, sempre desejante, de novas costuras, tecidos e histórias.

Rio, 20 de agosto de 2021


Lacan, J. O Seminário, livro 23: o sinthoma. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
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