4 de novembro de 2021 | Boletim GPS

A arte resistência de Rivane Neuenschwander

Por Renata Martinez

A experiência de ouvir um artista falar de sua obra sempre me impressionou, seja pelos divinos detalhes antes escondidos, seja pelo efeito acrescido ao meu olhar sobre a obra. Adentrar a arte pela mão do criador tem para mim valor de descoberta! A conversa com a artista visual Rivane Neuenschwander na 2ª Preparatória para as XXVIII Jornadas da EBP Rio e do ICP-RJ, Os Nomes da Vida. Marcas da Pandemia, foi dessa ordem de acontecimento.

Logo no início de sua fala, apoiada pelas imagens das obras, surge o que me pareceu central: “os desejos vão invadindo a cidade e provocando fricções no discurso”. Rivane nos revela não só a potência de uma arte que sai da galeria e ganha o espaço do mundo, transformando-o, como também, a íntima relação entre singular e coletivo. Nessa obra em constante movimento, o desejo de um soma-se ao de vários e vice-versa; e, impressos em fitinhas coloridas do Sr. do Bonfim, espalham-se por aí.

Com enorme delicadeza, a artista fala de sua relação com a psicanálise, ao mesmo tempo em que apresenta o entrelaçamento desse trabalho, Eu Desejo Seu Desejo, com outra de suas obras, O Nome do Medo.  Conduzindo o espectador a caminhar na construção e na passagem moebiana de um ao outro, Rivane desvela “a expectativa sombria que cada desejo comporta” ao juntá-los, depois de algum tempo, ao medo.

As capas coloridas expostas em O Nome do Medo contêm um duplo aspecto: abrigam e afugentam os medos de cada uma das várias crianças envolvidas no projeto, da artista e, também, de seus executores. Tudo junto e misturado numa grande costura entre individual e coletivo. De Londres ao Rio e depois partindo para outros cantos do mundo, a exposição carrega a preocupação ética da artista: a contrapartida para cada um que participa da ação. Para as crianças, as capas como objetos mágicos a estimular conversas em casa, para os museus, a relíquia da obra que conta uma história.

Ao longo da conversa, as várias camadas que compõem uma obra vão sendo reveladas e mostram, de modo contundente, a arte de Rivane Neuenschwander como resistência. “Há mundo por vir!” nos diz a artista. Como “Parangolés revisitados”, as capas-obras-de-arte, que transmutam desejos em medos, servem como pontes entre o um e o múltiplo, abrindo passagens mais arejadas de transformação social.

EBP-RIO / ICP RJ 2021. Todos os Direitos Reservados