Por Maria Lídia Alencar
“a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo” (Pecado Original, Caetano Veloso)
A artista visual Rivane Neuenschwander esteve presente entre nós para falar de seu trabalho e de antemão define que, quanto a ela, seu ato como artista é uma via para aflorar o inconsciente. A artista, de projeção internacional – Veneza (2003/2005), S. Paulo (2006/2008), Londres (Tate Modern), MG (Inhotim), nos brindou com alguns comentários sobre as exposições “Eu desejo o teu desejo” e “Nome do medo”. Os trabalhos são produzidos coletivamente, mas surgem num movimento que vai do particular para o coletivo, em que os participantes escrevem, desenham, garatujam, e confeccionam nomes para o desejo e/ou para o medo. Ao longo dos anos, a artista se deu conta de que o nome desejos era impróprio, eram sombrios desejos, talvez fossem medos. Essa decantação dos nomes transformou a proposta, que passou a ser a de dar nomes ao medo. Camadas temporais, múltiplas, se enodam nos objetos construídos – desenhos se tornam croquis de capas a construir e portar, nos corpos, circulando pela cidade. Circulando pela cidade, as crianças, com suas capas, lançavam o singular no coletivo.
“araçá-azul, fica sendo o nome mais belo do medo/araçá-azul é brinquedo” (Araçá-azul, Caetano Veloso)
Para Rivane: “além de ser um desenho, a grafia da criança está antes da linguagem (caderninhos, garatujas, língua estrangeira), e as palavras vem como música, caindo que nem chuva…” Sua obra nos toca a todos, como respostas de vida, ao Real, ao horror, e a torção que ela opera, entre o desejo, a angústia e o medo, nos ensina, aos psicanalistas, que o artista sempre se antecipa na matéria que é a nossa.
“vestimos panos de medo, de medo, vermelhos rios vadeamos” (O Medo, Carlos Drummond de Andrade)