APRESENTAÇÃO

 

Algo é o nome do homem
Coisa é o nome do homem
Homem é o nome do cara
Isso é o nome da coisa
Cara é o nome do rosto
Fome é o nome do moço
Homem é o nome do troço
Osso é o nome do fóssil
Corpo é o nome do morto
Homem é o nome do outro [1]

O poema de Arnaldo Antunes evidencia a articulação do nome com o impossível de dizer, e revela o furo de onde as invenções podem surgir, como tão precisamente antecipa o argumento de nossas XXVIII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e ICP RJ: “Os nomes da vida –  marcas da pandemia”. Nome e vida: dois significantes que convocam todos os envolvidos em nossa comunidade ao trabalho, movidos pela transferência com a psicanálise de orientação lacaniana. Como nos diz Lacan: “Uma coisa só ex-siste, só começa a funcionar a partir do momento em que é realmente nomeada por alguém”[2]. Então, o que é a nomeação, no sentido propriamente analítico? Que usos dá Lacan a ela, ao situá-la no enlace dos três registros da experiência analítica? É possível pensá-la como suporte do laço social, distinguindo-a de outros tipos de suportes, em particular, a identificação? De que maneira a nomeação, em sua dimensão de ato e dizer, pode possibilitar o laço social? A vida, significante que atrelamos ao nome, é um conceito de difícil apreensão e nos faz interrogar: Quais as coordenadas do conceito de vida para a psicanálise? Miller [3] sublinha que Lacan, no início de seu ensino, nos fala que o fenômeno da vida permanece, em sua essência, impenetrável, continua nos escapando irremediavelmente. E, no final de seu ensino, Lacan observa que “não sabemos o que é um ser vivente, exceto que é um corpo, isso se goza [4]”. Como enlaçar, então, o nome em sua dimensão de invenção, com a vida que implica a condição de gozo?

Essas são algumas das perguntas que nos guiam no caminho de nossas XXVIII Jornadas Clínicas da Ebp-Rio e ICP Rio, que certamente deixarão marcas – não só as provocadas pela pandemia –, mas também as que fazem existir a psicanálise. E para que ela possa existir, é preciso reinventá-la a cada vez. Convido-os, portanto, a manter viva a arte inventada por Freud que leva o nome de psicanálise.

 

Fátima Pinheiro
Coordenadora geral das XXVIII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e ICP-RJ.

 

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[1]. ANTUNES, A. “Nome”.  In: Nome, 1993. Acesso em  <https://youtu.be/cb-wRyhvdyU>.
[2]. LACAN, J. (1974-1975). O Seminário, livro 22: RSI. Inédito.
[3]. MILLER, J.A. “Biologia Lacaniana e acontecimento de corpo”. In: Opção Lacaniana, nº 41. São Paulo: Eólia, 2004.
[4]. LACAN, Jacques. (1972-73). O Seminário, livro 20:  mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p.35.

 

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