UM a MAIS
Ruth Helena Pinto Cohen
Para que um número passe da repetição do Um idêntico para uma sequência ordenada, Miller nos indica que precisamos passar pelo zero. E, assim, o fizemos ao darmos início à série despetra, com o boletim zero.
Estamos no número seis, mas sabemos que nosso ponto de basta ainda se encontra no horizonte, se fazendo cada vez mais próximo, quando nos dias 4 e 5 de outubro teremos uma pausa para recolheremos o que restou das Jornadas já percorridas, com suas preparatórias, com os trabalhos das comissões e, principalmente, com o desejo de dar à palavra seu alcance de leitura interpretativa, ou seja, o que foi possível fazer com as pedras extraídas, nos caminhos da clínica psicanalítica.
O texto “A interpretação é uma leitura” de Ana Martha Wilson Maia, que ilumina o tema, nos oferece uma trajetória preciosa a partir da pedra fundante de Freud e, para além da origem, indica os diferentes momentos do ensino de Lacan, a orientação dada por Miller, Laurent e muitos outros. Destaco de seu texto uma questão crucial: “[…] que conceitos dispomos para fazer esse trabalho de leitura? São os mesmos instrumentos teóricos que Freud apresenta em sua obra e Lacan em seu ensino?”
Glória Maron, em seu comentário sobre a “Direção do tratamento”, recorta um trecho que provoca reflexão sobre o que nos cabe na condução de uma análise, ou seja, qual a transmutação operada no paciente por esse dispositivo e os seus efeitos de interpretação. Finaliza seu comentário com a enigmática frase de Lacan: “Uma interpretação só pode ser exata se for uma interpretação”. Vale a pena conferir, assim como as novidades das comissões.
“No caminho…”, proposta deste boletim, sempre traz uma pedra preciosa, que embeleza nossa estrada, arrefecendo os duros percursos que, por vezes, temos que trilhar para extrair o osso, o núcleo da formação analítica.
Elsa Neves destaca um achado impossível de compreender, Stonehenge da Inglaterra, o famoso monumento da pré-história que pode ter sido um centro de cura, para onde iam peregrinos, há mais de 4.500 anos. Em contrapartida, no Brasil, o “Stonehenge da Amazônia” aponta para a morte, com suas urnas funerárias, mas que agora ganham um novo significado com a construção do Parque do Solstício, que será construído num sítio arqueológico.
Termino caminhando… com Ailton Krenak e suas metamorfoses: “O que é pedra vira borboleta, o que é pau vira vento, o que é vapor vira chuva, as nuvens despencam em tempestade.”