PREPARATÓRIA: UMA PEDRA DE TOQUE NO NOSSO CAMINHO
Maria Cristina Anonio Jeronimo
Estamos a menos de dois meses das nossas XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ. Este Boletim n. 5 privilegia o evento ocorrido no dia 2 de agosto. A Preparatória se deu num formato diferente, sem a apresentação de uma fala formulada a priori para esse fim, mas, sim, a partir de dois textos já escritos pelos dois convidados – Ricardo Seldes e Romildo do Rêgo Barros – tempos atrás. Foi uma noite marcada por uma conversa instigante, com muitas trocas, entre os convidados do evento e os participantes, num tom descontraído e animado pelas questões debatidas.
Dois textos retomam esse encontro da Preparatória. Dinah Kleve abre seu comentário dizendo que essas Jornadas já estão acontecendo, estão em pleno movimento, e colocando todos nós a trabalho. Dinah, entre outros pontos, destaca o comentário de Ricardo Seldes sobre não haver transferência sem demanda de interpretação e os desdobramentos disso. E ressalta a fala de Romildo do Rêgo Barros sobre a ousadia do tema “pedra”, “aquilo que excede a fala”, mas também a palavra que é pedra. Já o texto de Jéssica Alonso pontua a relação entre demanda e amor, na fala de Ricardo, e o Caso Dora, retomado por Romildo, no que se refere à surpresa e à inauguração do psicanalista. Jéssica destaca também as contribuições de Marcus André Vieira sobre a “sopa de pedra” no processo de análise, e a de Ana Tereza Groisman sobre o caminho da pedra e a importância do tropeço.
Nesse sentido, a seção “Bibliografia comentada” ilumina a questão da interpretação, e também a da transferência, ao trazer à baila uma citação de A interpretação dos sonhos – “o ponto central [umbigo] do sonho, o ponto de onde ele mergulha no desconhecido”. Maria Angela Maia aponta que Lacan caminhou por duas vias de interpretação: a de amplificação de sentido e a de redução de sentido, essa última orientada para o real com a ausência de representação. Maria Angela também convoca em seu texto um dos aforismos de Lacan, para tratar do objeto causa de desejo, perscrutando, assim, os caminhos da interpretação analítica que visaria liberar “a petrificação do enunciado no significante” e “a assunção do desejo escondido atrás das demandas”.
A seção “No caminho…” traz um texto de Elisa Werlang que parte de um “jardim de pedras” capturado pelas lentes de Henri Cartier-Bresson, um dos mais importantes fotógrafos da história e pioneiro do fotojornalismo, cujo trabalho foi marcado por um olhar particular e poético sobre o (extra)ordinário, revolucionando, assim, a arte da fotografia. O fotografado é André Breton, líder do Movimento do Surrealismo, e fascinado por pedras. Elisa propõe uma aproximação muito interessante entre as ideias de Breton e Lacan, ainda que dissonantes, contando ainda com um imbróglio de autoria entre os dois. Vale muito conferir todos os textos!
Não deixem de acompanhar nesta edição de despetra as chamadas para as inscrições e para o envio de trabalhos.
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