Maria Cristina Antonio Jeronimo
Ruth Helena Pinto Cohen
As Jornadas Clínicas da EBP-Seção Rio de Janeiro e do ICP-RJ deste ano nos convidam a perscrutar o tema “A palavra e a pedra: interpretação em análise” com os seus desdobramentos. Nosso boletim foi batizado pelo neologismo despetra que produz estranhamento, um sem sentido e soa infamiliar.
Pedra do latim petra (-ae), no pensamento grego, significou não apenas discurso, mas a razão e o mais profundo de um ser; que, na lenda de Prometeu, conservava um odor humano, elemento de construção.
A interpretação em análise esbarra em pedras brutas, abandonadas, carregadas, nas quais tropeçamos na direção de uma cura. Miller no seu seminário O osso de uma análise usa Drummond, com sua pedra à brasileira, para fazer equivaler ao osso francês, il a un os, duro de roer na clínica psicanalítica. Ele nos lembra que a fala do analisante vai girar em torno desse material, que esculpido pode revelar, no fim de um caminho, uma pedra preciosa, um ágalma. Lacan, em seu seminário sobre a transferência, aponta para o fato de que a essência desse brilho, entretanto, veste o vazio, o oco. Na “Proposição de 9 de outubro de 1967”, ele declara que nosso objetivo “é formular uma equação cuja constante é o ágalma” e, com isso, indica que o objeto causa amor ao saber.
Nos últimos caminhos do ensino de Lacan, encontramos o que todo sentido oculta, uma opacidade, o conceito de real, que só pode ser tocado no tratamento analítico. Como nos lembra Miller: “[…] alguma coisa poeirenta que começamos a limpar com um pincelzinho para, então, aparecer os relevos”1. Não se trata do brilho fálico, mas da decantação que produz o objeto pequeno a como resto irredutível. Se vivemos sob a égide do discurso do mestre, que petrifica e aprisiona os corpos, no seu avesso, apostamos no discurso analítico que, ao triturar a brilhante pedra do desejo, extrai o que ela envelopa: um específico modo de gozo.
O boletim, veículo de informação e debate, tem como tarefa tocar e trazer os percursos colhidos da elaboração das Jornadas Clínicas, tentando despertar, separar, contornar e tangenciar o real, pela via simbólica, qual seja: noticiar, transmitir ideias e discussões de todas as comissões que compõem essa empreitada.
despetra também trará novidades, além das informações das Jornadas 2024, em uma seção final, intitulada “No caminho…”. Essa parte final do boletim tentará inspirar a todos com poesias, músicas, lugares, coisas inusitadas. Pretendemos construir um chão de palavras e imagens, bom de trilhar, até as Jornadas Clínicas 2024.
Comissão do Boletim
Coordenação:
- Maria Cristina Antonio Jeronimo
- Ruth Helena Pinto Cohen
Integrantes:
- Elisa Werlang
- Elsa Neves
- Felipe Pinheiro
- Rodrigo Pedalini