Maria Inês Lamy
Os agradecimentos
Antes de tudo, a Isabel do Rêgo Barros Duarte, que se ofereceu para coordenar as Jornadas, e a Ana Beatriz Zimmermann, que aceitou o convite sem titubear. Agradeço também a Marcia Zucchi, pela parceria do ICP, e a todas as pessoas que se dispuseram a trabalhar para as XXXI Jornadas da EBP-Rio e ICP-RJ nas diversas comissões.
E convido cada um e cada uma de vocês, presentes aqui ou pelo Zoom, não só a participar das Jornadas, mas também a se engajar no percurso até lá – nas discussões em torno do tema e, principalmente, nos cartéis fulgurantes que visam à escrita de trabalhos para as mesas simultâneas.
Pedras na construção de uma Jornada
Certa vez Marcus André Vieira comparou a EBP a um circo mambembe: armamos a lona, alimentamos os animais, arrumamos as cadeiras, varremos o chão e, no final, ainda subimos ao palco para as apresentações. No “maior espetáculo da Terra” é fundamental manter os malabares em equilíbrio, não despencar do trapézio e domar as feras. Almeja-se que o “respeitável público” fique siderado diante dos equilibristas, dos domadores e dos mágicos que tiram coelhos da cartola. E que todos riam com as cambalhotas e os tropeções dos palhaços.
Numa Jornada de psicanálise, também trabalhamos duro para montar o evento, mas, ao contrário do que ocorre no circo, o passe de mágica não comparece. Além disso, o equilíbrio frágil e as quedas constituem nosso material de trabalho e lidamos com a pulsão, que tem algo de indomável. Por outro lado, os tropeços e o humor são bem-vindos. Estaríamos mais próximos do semblante do palhaço? “Sou um clown”[1], disse Lacan.
Quanto às XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ, ainda estamos varrendo o chão, em pleno canteiro de obras, imersos em uma profusão de reuniões, grupos de WhatsApp, visitas a locais, dúvidas, conversas, discussões… E muito mais vem por aí. O que nos motiva a carregar pedras para montar mais uma das nossas Jornadas?
A construção, tijolo por tijolo é trabalhosa, mas instigante e, às vezes, surpreendente. Mesmo tentando seguir roteiros semelhantes aos dos anos anteriores, novidades sempre surgem, para o bem e para o mal. O real emerge em meio ao autômaton. A transferência, com a psicanálise e com a transmissão da EBP e da AMP, em sua função de farol, nos orienta, podendo ocasionar, por exemplo, ótimas e inusitadas parcerias de trabalho entre colegas que mal se conheciam antes. O percurso tem um efeito formador já que muito se aprende sobre o trabalho de Escola e mesmo sobre a própria posição analisante.
A cada ano, o tema das Jornadas passa a ser o norte dos debates da Seção. Dessa vez – A palavra e a pedra: interpretação em análise – conversa diretamente com o tema do Encontro Brasileiro, conforme vemos no argumento.
Por fim, ainda sobre a pedra, lembro a fala do poeta Armando Freitas Filho (em uma Noite da Biblioteca da EBP-Rio em 2021): fazer poesia é “uma pedreira, uma pedraria”. Construir uma Jornada de Psicanálise também parece se localizar entre pedreira e pedraria. Talvez esperemos que surjam apenas pérolas e diamantes, mas, muitas vezes, são os cacos mal lapidados que agem como restos fecundos.
Obrigada.