Ana Beatriz Zimmermann Guimarães
Esperar a atmosfera da transferência ou interpretar para instalar a transferência? Como diz a propaganda que virou sucesso no Brasil na década de 1980: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.
Com Lacan e Miller a interpretação ganha um recheio diferente.
Jacques Alan-Miller em sua conferência da AMP em Comandatuba (BA) (2004) indica:
A poética da interpretação não é para ser bela, não é kitch. Ela é um materialismo da interpretação. Ontem ou anteontem, alguém em supervisão me contava sobre o tratamento de uma paciente, há nove anos, e sobre o efeito inédito obtido dizendo-lhe simplesmente: “Basta!”, em um tom cuja virulência contrastava com a voz suave usualmente mantida por ela. É preciso pôr o corpo para elevar a interpretação à potência do sintoma.[1]
O analista e o analisante não incluem o corpo desde a primeira entrevista? O que os casos que passam por dispositivos de “curta duração” nos ensinam sobre a intepretação à lacaniana? Como produzir uma interpretação que seja uma tradução do impossível desde a primeira entrevista?
Miller, na conferência acima, propõe algo que nos parece fundamental: há que pensar a transferência ao inverso, não é o sujeito suposto saber o pivô da transferência, mas, sim, que é o amor o pivô do sujeito suposto saber. Isso muda a nossa perspectiva, permite ao analista intervenções mais ativas desde a entrada, mirando algo do gozo que já está lá no começo. Trata-se de um orientador que não nos deixa adormecer como analistas, na medida em que a relação com os ciclos temporais muda e, fundamentalmente, permite pinçar quais são as coordenadas da pulsão de cada ser falante desde a entrada e localizar que o bem-dizer não se logra apenas numa análise avançada.
Convidamos todas e todos para que possamos debater os significantes transferência e interpretação na Preparatória das XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ que ocorrerá no dia 2 de agosto, às 19:00, na EBP-Rio de forma híbrida, com nossos convidados Ricardo Seldes e Romildo do Rêgo Barros.