Jéssica Afonso
No dia 2 de agosto ocorreu a Preparatória para as XXXI Jornadas Clinicas da EBP-Rio e do ICP-RJ. O tema desse encontro foi “Interpretação e transferência” e tivemos a presença dos convidados Ricardo Seldes, membro da Escola de Orientação Lacaniana (EOL/AMP), e Romildo do Rêgo Barros, membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP/AMP).
Para a articulação com o tema, foram indicados dois textos escritos pelos convidados, “Da interpretação à transferência”, de Ricardo Seldes, e “Não há final de análise sem interpretação”, de Romildo do Rêgo Barros. Esses textos, apesar de terem sido escritos separadamente e há alguns anos, tiveram uma espécie de cruzamento e enriqueceram as discussões do evento.
Ricardo nos convidou a pensar o inconsciente para refletirmos sobre as questões da transferência e interpretação. A interpretação não pode ser apenas uma tradução, como em uma língua estrangeira; é um ato que se prepara e é “êxtimo”, porque vem de fora. Se o amor é a causa do Sujeito de Suposto Saber, aceitar uma demanda já é um ato de amor. Também discutimos sobre a proximidade do amor na análise com o amor cortês, a surpresa na análise, e a dura docilidade do analista.
Romildo resgatou o Caso Dora para falar sobre a inauguração do analista, um momento distinto da inauguração da psicanálise. Quando Freud identificou o impasse que o caso Dora representava, desocupou o semblante médico e fez entrar em cena o psicanalista. O médico não deu conta do caso, pois a transferência era um fator decisivo.
O tema das jornadas “A palavra e a pedra: interpretação em análise” também foi abordado, convidando-nos a refletir sobre a pedra em contraste com a palavra, sendo a pedra aquilo que a palavra não conseguiria explicar. Como no poema de Drummond, “No meio do caminho tinha uma pedra”. Não sabemos o que é a pedra e a palavra não basta.
Alguns presentes também trouxeram perguntas e contribuições valiosas. Entre eles, Marcus André Vieira resgatou a fala de Ricardo sobre “tirar leite de pedra” e questionou como seria a “sopa de pedra” no processo de análise. Primeiro, se tem a pedra, coloca-se água, adiciona-se toda a cozinha e, ao final, retira-se a pedra, resultando em uma sopa. E Ana Tereza Groisman também mencionou o caminho da pedra, no qual só se pode ver o caminho, porque se viu a pedra. E que, a partir do tropeço, é possível ver outro caminho.
Esse evento riquíssimo, repleto de reflexões entre as palavras e as pedras, proporcionou excelentes contribuições sobre a interpretação e a transferência na análise, além de nos fazer caminhar mais em direção às Jornadas que ocorrerão em outubro.