Elisa Werlang
No último dia 17 de maio foi o lançamento das XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-R.J. Ali se renovou o convite para que cada um possa colocar na roda seu fazer clínico e trocar com seus pares. O tom, a que fomos provocados, veio sob a imagem do trazer o “feijão com arroz” da clínica. Ao longo da noite, pudemos tomar contato com o que foi chamado de making of das comissões. Este boletim tem a proposta de trazer o material apresentado nessa ocasião.
Como interpretar esse desejo pelo feijão com arroz da clínica? “Metendo no Google”, o sentido apresentado é de rotina, daquilo que se faz sempre da mesma forma. Podemos entender também como aquilo que não tem o brilho do novo ou refinamento. Mas não é esse o fantasma que vem, quando nos sentimos convocados a apresentar algo? Precisa ser algo rico! Extraordinário! Uma intervenção brilhante! Um caso raro! A prova contumaz, a pedra de toque do analista padrão ouro, expressão última de sua lapidação, ao longo de sua prática. Brilho que ofusca, sidera e não necessariamente nos faz mais próximos de transmitir o real na clínica.
Aqui, o convite para falar do que já fazemos. Apostar que já fazemos. Botar em palavras. Renunciar ao silêncio que, como apontou Lacan, é privilégio das verdades indiscutíveis. É bem verdade que o inconsciente se abre de forma fugaz, com ares de extraordinário, e o ato analítico é algo raro. Esses momentos memoráveis merecem ser contados como quem deposita uma pedra para que isso não seja esquecido no rio do tempo. E como sói ser, sob a forma do impasse, do que ultrapassa, do que se dá em perda.
Pedra, anagrama de perda.
Uma pequena curiosidade sobre o poema de Drummond, “No meio do caminho”, que nos retorna, a partir do tema proposto pelas Jornadas. Publicado na Revista Antropofagia em 1928 pelo então jovem e desconhecido poeta, hoje presente por aquilo que nos toca, tornou-se conhecido primeiro pelas críticas de que foi alvo. Era simples e repetitivo. “Isso lá é poesia!? que lixo!” Sátira ao parnasianismo, dialoga com o soneto de Olavo Bilac “Ne mezzo del camino….”, poema que também faz uso da repetição que caracteriza a figura de linguagem quiasma. O poeta parnasiano, então padrão ouro da poesia, que comparava sua arte com a do ourives, é relido, interpretado pelo jovem poeta que trazia em si a marca herege do grupo dos modernistas. Traço que retorna em outros poemas, como de “Mão dadas” – “Não serei o poeta de um mundo caduco/Também não cantarei o mundo futuro/Estou preso à vida e olho meus companheiros.”
Em outros termos, essas Jornadas renovarão o “estar à altura de nossos tempos” tão presente nas Jornadas do ano passado. Trazer o vivo, que talvez seja outra forma de dizer “fazer Escola”, expressão recorrente naqueles que trouxeram um pouco da experiência do making of.
Aqui tudo é convite. Venham!