Dinah Kleve
O que vem primeiro as Preparatórias ou as Jornadas? Se você está achando que “A palavra e a pedra: interpretação em análise” só vai acontecer em outubro, se liga porque desde o seu lançamento as XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ já estão acontecendo e nos colocando a trabalho.
Os eixos propostos pela Comissão Científica para o envio de textos para essas Jornadas, nas quais somos incentivados, de diferentes formas, a lhes endereçar os embaraços que vivemos na clínica já apontam para um caminho que foi a tônica da excelente Preparatória que ocorreu no último dia 2 de agosto, na Seção Rio.
Com base em dois textos dos ilustres convidados, escritos há cerca de 30 anos – “Não há final de análise sem interpretação”, de Romildo do Rêgo Barros, e “Da interpretação à transferência”, de Ricardo Seldes –, Maricia Ciscato lançou a questão elaborada pela Coordenação das Jornadas: o que vem primeiro a transferência ou a interpretação?
Convocados a improvisar a esse respeito, ambos os convidados revisitaram seus próprios percursos de diferentes momentos de suas formações, assim como as diferentes tópicas de Freud e os diferentes ensinos de Lacan, sempre ressaltando a importância de se recolher as consequências dos tropeços nas pedras, a fim de trilhar o caminho que elas próprias delineiam, uma vez que a fundação da psicanálise, como se concluiu em determinado momento, não corresponde à fundação do psicanalista.
Uma importante colocação de Ricardo Seldes quanto a não haver transferência sem demanda de interpretação fez surgir uma questão sobre qual seria a diferença entre esta e a instituição do sujeito suposto saber, à qual ele respondeu caracterizando a aceitação, por parte do analista, da referida demanda, como um ato de amor, em que ele intervém prestando-se à transferência.
Mesmo que o pedido a nós dirigido seja, portanto, o de retirarmos a pedra do meio do caminho de nosso analisante, cabe-nos viabilizar que ele venha a perceber que uso vem fazendo dessa pedra, em que paredes ela rebate ao se deslocar por ele, que sons emite etc. Estabelecer a análise como um espaço no qual essa experiência possa ter lugar e não como um procedimento que busque enquadrá-lo num ideal de normalidade.
Romildo, por sua vez, marcou a ousadia da Coordenação das Jornadas de propor como tema a pedra, enquanto aquilo que excede a fala, ou seja, aquilo que a palavra não consegue explicar, sendo que, como também foi pontuado, a própria palavra pode ser a pedra em questão. A surpresa, destacou ele, que é para cada analista, flagrar-se como tendo sido jogado no lugar de objeto.
Ainda que não seja possível resgatar num breve Boletim tudo o que de tão importante se deu na Preparatória, gostaria de concluir sublinhando o quanto a ideia de propor um debate e não a apresentação de textos preparados para o encontro reforçou a diferença que há entre propiciar uma transmissão e assumir uma posição de mestria, atentando que é justamente a lida com o Discurso do Mestre, a partir do Discurso do Analista, por meio da interpretação, o tema dessas Jornadas.
