Maricia Ciscato
O Conselho da Seção Rio da EBP vem buscando articular o estudo do Seminário de Orientação Lacaniana (SOL) ao tema das nossas XXXI Jornadas – A palavra e a pedra: intepretação em análise. Para tanto, tem convidado colegas que vêm conduzindo o trabalho das Jornadas para discutirem alguns pontos do curso “O Ser e o Um”, de Jacques-Alain Miller, à luz das questões que a interpretação tem nos colocado no trabalho clínico cotidiano. Nos dois primeiros encontros do SOL de 2024, Isabel Duarte, uma das coordenadoras gerais das Jornadas, e Paula Legey, uma das coordenadoras da Comissão Científica das Jornadas, estiveram presentes de um modo vivo e descontraído, trazendo para o SOL um pouco do tom que essas Jornadas vêm imprimindo na Seção Rio.
Enquanto Isabel destacou a expressão “arquitetura do vazio”, usada por Miller em “O Ser e o Um”, Paula retomou o valor do inconsciente como tropeço, tensionando a expressão “Isso falha” com a ideia mais presente no último Lacan em que “Isso itera”. Por diferentes percursos, Isabel e Paula enfatizaram, em um esforço de articulação com as provocações de Lacan no Seminário 19, a hiância entre gozo e sentido. Enquanto Isabel destacou que “a interpretação conta com essa hiância, ao mesmo tempo em que a produz”, Paula enfatizou que é no vazio central – que ela trouxe através da figura do toro – que opera a interpretação.
Seguiremos por aí nos próximos encontros do SOL. Na aula de 4 de maio de 2011 de “O Ser e o Um”, Miller diz que há uma escuta no nível da dialética e uma escuta que se dirige à existência: “Entre essas duas escutas, o analista circula por haver ali duas dimensões só rejuntadas por um hiato”. Paula e Isabel já adiantaram algo sobre isso em nossos primeiros encontros.
Lugar litoral entre gozo e sentido, a interpretação, para tocar o sem sentido do gozo, também passa pelos desvios prometidos pelo sentido. Nesse hiato, promove aberturas para uma invenção. E foi essa invenção que Isabel apresentou sob a seguinte pergunta: “Como, da pedra, chegar à construção, a uma construção nova, singular, que dê lugar à relação do ser falante com seu gozo, a partir da não relação sexual?”. Seguimos nos esforços de articulações!