Ana Beatriz Zimmermann Guimarães
Após dois dias de intenso trabalho, é chegado o momento de concluir as XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ. Agradeço às diretoras, Maria Inês Lamy e Marcia Zucchi, pela efetiva orientação, que nos possibilitou a realização dessas Jornadas. Agradeço também à presença ilustre de nossa convidada Gabriela Grinbaum que nos trouxe grandes ensinamentos. E, também, a todo o público que trabalhou nesses dois dias conosco. Fiquei surpresa que as inscrições se esgotaram quase um mês antes do nosso evento, o que significa uma maciça adesão.
Agradeço a Maria Inês Lamy pelo convite para coordenar essas Jornadas junto a Isabel do Rêgo Barros Duarte. No momento do convite, em fevereiro deste ano, a única informação que sabia é que essas Jornadas seriam antes do período habitual. Da parte de Isabel surgiu uma ideia que achei fundamental: este ano plenárias totalmente clínicas. Que original, me pareceu, escutar a clínica que diversos colegas fazem, nos consultórios, nas instituições. Da minha parte, o conceito de interpretação já me acompanhava há bastante tempo e sugeri esse tema na primeira reunião com Isabel.
Por que fazer uma jornada clínica? Porque ela própria nos coloca a trabalho e nos permite seguir o faro do inconsciente que se atualiza naqueles que hoje nos procuram. Tratou-se de construir essas Jornadas Clínicas deixando, na sua própria construção, a brecha para o arejamento, para que o sintoma, a diferença que cada um põe, aquilo que está passando e passou por um tratamento nas análises, apareça e resulte em um produto que nos forme como analistas e se enderece à Escola.
Aprendi com essas Jornadas que a lógica de Escola não deve entrar no lugar do sacrifício. Ou mesmo ao lado do superego. Prefiro escolher a outra face do superego que é a do humor. Também com humor, conduzimos os 12 grupos de WhatsApp que criamos. Surgiram mais dois nas duas últimas semanas! Isso porque as ideias nos conduziram a um lugar que não tínhamos pensado de antemão.
Incluímos uma pitada de humor em todas as reuniões, nesse dia a dia da coordenação. Colocamos uma pedra nessa sopa para depois retirá-la, mas o que houve é que essa pedra foi gerando um movimento que nos sacolejou. Os próprios integrantes das comissões fizeram esse trabalho se movimentando por conta própria, as ideias na Comissão de Mídia se multiplicaram ao final, por exemplo. Cada integrante foi incluindo suas próprias pedrinhas e foi um desafio encontrar a medida de desligar a sopa. Os GTs das plenárias tiveram cada um o seu estilo, cada comissão, ao seu jeito, embarcou nessa empreitada, carimbando o seu desejo na nossa constelação[1] coletiva.
Construir umas Jornadas não a partir do já dado, porque a Escola não tem que dar. O que podemos oferecer à Escola? Essa pergunta me parece mais interessante. Trata-se, em algum ponto, de oferecer o próprio vazio. Isso não tem a ver com o desejo do analista? Tem mais a ver com o ser dócil do que com o não saber – a pedra que havia no caminho como disse Drummond, que anima e às vezes inquieta o corpo. Compartilhamos com Isabel essa pedra diariamente, sem deixá-la se transformar num pedregulho impossível de conduzir.
Relembro a citação de Lacan em Estou falando com as paredes (1971-1972): “Toda ordem, todo discurso aparentado com o capitalismo deixa de lado o que chamaremos, simplesmente, de coisas do amor”. A interpretação é um ato de amor. Aceitar uma demanda é um ato de amor. Então, na medida em que trabalhamos a interpretação, na própria lógica das Jornadas, incluímos as coisas do amor.
Não há acordo possível pela lógica dos grupos na Escola, mas aprendi com essas Jornadas que não se trata de crer que há que inventar algo novo a todo o tempo e, sim, dar um bom lugar à transferência de trabalho que nos enlaça.
Por fim, agradeço a Isabel que me ensinou muito durante a invenção dessas Jornadas. Acolheu as minhas ideias e as decisões viraram nossas. Deu lugar ao tema que me causou e me ensinou sobre o trabalho de Escola. Tenho a impressão de que a dura docilidade, termo caro a mim e que trabalhamos nas Preparatórias, deixa ecos nessas Jornadas.
Agradeço à equipe da Fundação Cesgranrio pelo acolhimento nesse lugar incrível e por tornar possível, utilizando o jogo de cenas, o que queríamos produzir com a transmissão da psicanálise nessas Jornadas. Agradeço a Romildo do Rêgo Barros, Ana Lucia Lutterbach por emprestarem suas vozes ao recitarem os poemas. Um agradecimento também a cada um dos integrantes e coordenadores das comissões, pois não se trabalha sozinho, nem só com amigos, se trabalha com vários analistas enlaçados pela pedra que causa o desejo, que nos empurra a algo que vai para além de nós. A espalhar a peste chamada psicanálise por nossa comunidade, por esse teatro, pela cidade e pelo mundo!