Ana Tereza de Faria Groisman
O que apreendi dessas jornadas?
Ontem concluímos as XXXI Jornadas Clínicas da EBP-Seção Rio e do ICP-RJ, dois dias de intenso trabalho em torno da clínica e de suas balizas de orientação. A interpretação, a transferência, o inconsciente, o desejo do analista e tantos outros conceitos foram, pouco a pouco, costurados pelo fio da escuta que define a psicanálise de orientação lacaniana. Um trabalho que teve a consistência da pedra, carregado pela fluidez das palavras. Foi animado, vivo, ensinante!
Mas, o que pude apreender dessas Jornadas não teria sido possível sem um trabalho feito, prévio aos dias que nos encontramos no Teatro da Cesgranrio, uma linda casa colonial, que nos recebeu com um aconchego que poucas vezes encontramos. As Jornadas da EBP-Seção Rio e do ICP-RJ começaram muito antes de seu ponto de conclusão, uma jornada na qual muitos se engajaram de forma decidida, sob a batuta de quem sabia o que estava fazendo.
Hoje, ao acordar, uma imagem me veio à cabeça e lá se instalou. Com tanta insistência que me levou a escrever este texto. Entre uma mesa simultânea e outra, o deslocamento entre as salas ganhava um ritmo apertado, quase frenético. Uma certa correria para garantir um lugar e seguir acompanhando o fluxo do trabalho. Uma onda de pessoas se deslocando de um lado para o outro, às vezes carregando cadeiras, para escapar de se sentar no chão.
Numa dessas passagens, eu, como parte do turbilhão das ondas, percebo surpresa a presença de uma cachorra, uma simpática vira-lata, estranhamente calma em meio a tanta agitação. Estava sentada, no meio do saguão, olhando distraidamente o ir e vir do mar de gente ao seu redor. Uma figura divertida, me fez sorrir e de repente olhar o que se passava pelo lado de fora, como se o tempo mudasse de ritmo. Então, me dou conta que o estranho de sua presença passou para o outro lado. Ela estava em seu habitat, os estranhos éramos nós, agitados pela festa que o trabalho de Escola provoca em nossos corpos.
Uma colega se aproxima, seguindo o ritmo das ondas, e eu pergunto: viu a Baleia?
Agradeço mais uma vez às minhas colegas de GT, Paula, Vânia e Bruna, que me ajudaram a ver a Baleia!
