Por Susan Guggenheim
“Agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos.”
Julius Robert Oppenheimer
O desejo de saber levou o jovem Julius Robert Oppenheimer a se tornar, ao lado de Einstein, um dos maiores cientistas do século XX.
O destino trágico de suas pesquisas foi aplicado durante a Segunda Guerra Mundial. Os EUA temiam que a Alemanha nazista criasse a bomba atômica e a lançasse sobre os seus inimigos, por isso contrataram o brilhante físico para dirigir o que foi uma das mais ousadas criações dos homens de Ciência, o Laboratório Nacional de Los Alamos. Ao dirigir o projeto Manhatan,Oppenheimer concretiza o seu sonho pessoal e, também, o americano, de construir a primeira bomba atômica.
Os conflitos pessoais de Oppenheimer são expressos na narrativa do filme dirigido por Cristopher Nolan. Sua determinação intelectual, a ambição de saber mais sobre a Física de sua época, os problemas amorosos e familiares compõem o retrato de um homem que, tendo sido criador da primeira bomba atômica, que destruiu duas cidades japonesas matando milhares de pessoas, se tornou um pacifista.
Qual o peso moral e ético de um ato radical que fez de Oppenheimer o “Pai da Bomba Atômica”? Uma pergunta de difícil resposta para os psicanalistas. As questões políticas da época, vividas por esse nova iorquino de mestria no saber da Física eram evidentes. A urgência decorrente de uma guerra mundial, os acordos das grandes potências nela envolvidas e o papel dos EUA talvez não estivessem muito claros para ele, naquele período tão conturbado.
Como a pulsão de morte, embutida na primeira explosão nuclear e que nos afeta até hoje, e o sonho de alcançar a paz mundial poderiam coexistir nos projetos do cientista? A contradição entre o desejo da Ciência, os fins pacíficos e o arrependimento do ato extremo nos desafiam.
A Ciência é a mostra da evolução do saber do homem. Ele faz de suas pesquisas a promessa de um mundo melhor, com menos doenças, mortes, misérias, fome.
Há na ambição de saber a ilusão da imortalidade. Vemos cada vez mais progressos nas ciências. Descobertas de novos tratamentos para doenças letais, vacinas etc. Paralelamente às curas, porém, são aperfeiçoadas as armas de destruição. A cada novo medicamento, surgem novos tipos de mísseis, bombas e mais armas para as guerras.
A contradição é flagrante, mas negada pela ilusão de um progresso sem fim.
Oppenheimer é exemplo do homem carregado de ilusões. Desde jovem, acreditava no valor da Ciência. A Física era o seu campo de gozo. Com ela desafiou os seus mestres e se tornou maior do que eles. Ter sido o criador da bomba atômica o fez dialogar com Einstein, o maior físico da sua época.
Qual é o limite da ilusão? Talvez seja a realidade. Quando, ao final da Segunda Guerra Mundial, Hiroshima e Nagasaki são destruídas, as ilusões explodem e se dissolvem na fumaça em forma de um imenso cogumelo.
As glórias de que desfrutou em seu país por conta de sua criação, as perseguições, os inquéritos da CIA, o ostracismo foram o destino deste homem, que por ser sujeito, e por isso, dividido, pôde carregar o peso ético de sua terrível invenção.
Restam muitas perguntas e talvez mais desafios para a psicanálise, hoje. Até onde a Ciência e suas verdades nos levam ao desamparo? A insegurança do um sozinho diante, não só da própria morte, mas também da destruição do planeta nos fazem temer a vida?
Já conseguimos evoluir do Mal-Estar na Civilização descrito por Freud em 1930?