
◼… No princípio, era a ilusão.
◼ Sarita Gelbert
Antes de mais nada, queremos agradecer a Marina Recalde, que com sorriso e delicadeza, prontamente aceitou nosso convite. E nos falará do amor após a análise e com uma distância do seu período de AE.
Somos eu, Dinah Kleve e Francisca Menta, muito gratas a Maria Inês Lamy, diretora da seção Rio, e a Marcia Zucchi, diretora do Instituto de Clínica Psicanalítica, pela confiança depositada em nosso trabalho.
Formamos comissões de trabalho, construindo coletivos, das quais vou nomear apenas os coordenadores: Maria Silvia Hanna e Angela Bernardes (comissão científica); Felipe Vianna e Larissa Pinto (comissão de mídia); Sandra Landin e Rodrigo Pires (infraestrutura); Renata Bondim e Marina Sodré (boletim); Vanda Assunção e Maria Correia (tesouraria); Aspazia Barcelos, Débora Souza e Patrícia Patterson (livraria); Ana Luiza de Almeida e Carolina Dutra (festa). Tais coletivos foram fundamentais para a construção deste lançamento e primaram pela generosidade, alegria e solidez.
Para Dinah Kleve e Francisca Menta, não tenho como definir a bela relação de confiança, carinho e solidariedade criada ao longo deste tempo.
A Uerj não foi acaso, foi desejo decidido. Ali começamos nosso trabalho.
Segundo Freud, em “O Futuro de uma Ilusão”, nosso ponto cardeal, ilusão é um recurso de que o falasser lança mão para lidar com o desamparo. “Chamamos, então, uma crença de ilusão, quando em sua motivação a realização do desejo passa para o primeiro plano, assim fazendo desistimos de sua relação com a realidade” (FREUD, 1927).
Miguel de Cervantes, renascentista que se pautava por ilusões, gestou um mundo onde havia moinhos, dulcinéias, rocinantes, escudeiros e regras de cavalaria a serem acatadas. As interpretações variam: desde considerar o Quixote como uma crítica à nobreza e à feudalidade até a noção de que, criando personagens que enfrentavam o mundo dos moinhos, Cervantes espelhava as ilusões dos homens. Isso nos leva à pergunta: O que temos de quixotes, de sancho panças, de dulcinéias? Ou possuímos um traço de cada um?
Nossa vida é povoada por moinhos. De todos os tipos, sejam moinhos de vento, sejam turbinas eólicas, como quer a modernidade. Com os dois, produzimos a energia que enviamos ou recebemos desde sempre. Criamos vida e criamos ilusões, o imaginário enodado com o simbólico.
Ao pensar nosso tema de hoje, nos remetemos às fantasias quixotescas. Sem saber exatamente o porquê de usar estas referências, caminhamos por sobre estas imagens e estes significantes, buscando o sentido do Quixote perdido. Nesta busca recolhemos amor, discurso e loucura, identificados pela comissão científica.
Em cada um de nós, analistas, analisantes, cidadãos, habita a singularidade que constrói o coletivo que, por sua vez, cria as singularidades. Acreditamos que cada sujeito carrega o seu próprio moinho – nome de nosso boletim.
Apostamos que com a psicanálise sejamos capazes de promover a redução do sentido que sustenta a ilusão para que o desejo caminhe e que cada um possa saber fazer do seu moinho um catavento.