
◼ Ilusão
◼ Maria Inês Lamy
Pela sequência dos temas escolhidos para nossas Jornadas nos últimos anos [“Exílios” (2020), “Os nomes da vida” (2021) e “Lógicas coletivas nos tempos que correm” (2022)], podemos notar que a EBP-Rio tem tratado de questões que se voltam para a ‘subjetividade da época’. O mal-estar dos dias de hoje nos desafia. Após os últimos quatro anos, em que, em meio a vários tipos de horror, nos vimos imersos nas chamadas ‘disputas de narrativas’, muito restou que nos coloca a trabalho. Dentre esses restos que intrigam, situa-se o estatuto da ilusão. Sem ela não se vive. Mas qual seu lugar?
Como bem disse um menino entrevistado pelo Moinhos (o boletim das Jornadas): “ilusão é uma invenção do que é a realidade”. O campo da realidade é inventado. Vivemos num mundo de semblantes, em que simbólico e imaginário se unem para fazer frente ao real. Já dizia Freud que há ‘perda da realidade’ (‘realidade’, nessa expressão freudiana, aproxima-se do ‘real’ de Lacan) não só na psicose mas também na neurose. Lacan, seguindo essa trilha, concluiu que ‘todo mundo delira’.
No entanto, o real insiste. No texto freudiano “O futuro de uma ilusão” (1927), a natureza – com suas calamidades, doenças e morte – apresenta-se como um dos nomes do real. “A vida é difícil de suportar”, diz Freud. Diante das forças inexoráveis do destino, o ser humano, vendo-se em desamparo, apela à ilusão. Com isso, o desejo se mantém e alguma satisfação é preservada. Mas de que ordem será a ilusão inventada por cada sujeito? E qual sua função?
Um outro entrevistado definiu ilusão com uma só expressão: fake news. De que maneira então se haver com a ilusão sem se encerrar em bolhas, tentando tamponar o real? O que faz a verdade mentirosa, que rege cada sujeito, não ser sinônimo de fake news?
Em suma, muitas perguntas se abrem a partir da ideia inicial. O Argumento das Jornadas e os três eixos temáticos, redigidos de forma brilhante pela Comissão Científica, desdobram o tema e as questões, nos convidando ao trabalho.
A ilusão nos chama!
Agradecimentos
Em nome da diretoria, agradeço a todo pessoal que aceitou embarcar conosco nessa jornada. Antes de tudo, a Sarita Gelbert, que não titubeou em aceitar o convite para coordenar as Jornadas, e também a Dinah Kleve e a Francisca Menta, companheiras de Sarita na Coordenação, além dos participantes das diversas comissões. Acompanho os efeitos desse trabalho que tem se dado com dedicação e alegria. Agradeço também à Comissão Científica, coordenada por Angela Bernardes e Maria Silvia Hanna, que, nas discussões e na escrita do argumento e dos eixos temáticos, já fez as questões avançarem, convidando a novas elaborações. Obrigada ainda a Marcia Zucchi, diretora do ICP-RJ, pela parceria produtiva. Por fim, agradeço a Marina Recalde, que aceitou o convite para participar desse momento inaugural das nossas Jornadas, com a intervenção “Iludir-se ainda”. Muchas gracias!