◼Argumento
Se as coisas são inatingíveis…ora!
Não é motivo para não quere-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
Mário Quintana
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Ilusão é o tema proposto para as XXX Jornadas Clínicas da EBP-Rio em parceria com o ICP-RJ.
Embora não seja um conceito psicanalítico propriamente dito, a noção de ilusão abarca temas que nos interessam formular desde a perspectiva da psicanálise. Em seu célebre texto de 1927, “O futuro de uma ilusão”, Freud correlaciona a ilusão ao desamparo inaugural do homem, termo que aloja a dimensão do real elaborada por J. Lacan.
A ilusão faz parte da vida de todos os seres falantes. Segundo Lacan, Freud considerou que “tudo não passa de sonho”[1]. “Somos todos delirantes”, acrescenta Lacan num pequeno texto publicado em 1978 [2]. Essa passagem orienta o trabalho da Associação Mundial de Psicanálise rumo ao Congresso de 2024, “Todo mundo é louco”.
Os eixos de trabalho para as XXX Jornadas no Rio abrem três campos nos quais se poderá examinar o lugar e a função da ilusão, seja quando sustenta um sujeito em seus laços, seja quando cai – queda que ocorre na medida em que as ilusões não se mantêm frente a algo que irrompe de maneira inesperada. Quais efeitos se verificam nas diferentes respostas subjetivas?
Cada um é louco a seu modo. Frente ao real insuportável, travam-se combates quixotescos. Criar ilusões é produzir possibilidades de vida. Inventar é preciso. Como não se emaranhar nas ilusões, negar a realidade e se afogar no obscurantismo? Que ilusões estão envolvidas nos diferentes sintomas? O encontro com o psicanalista perturba a ilusão? Quais relações entre a ilusão amorosa e o furo real da relação que não existe? O que os casos nos ensinam?
É preciso considerar que, ainda que confronte ilusão e realidade, em seu texto de 1927 Freud assinala que uma ilusão não é necessariamente falsa. Interessa a ele a sua relação com o desejo. O que dizer das ilusões nos discursos nos quais estamos inseridos?
Apresentamos a seguir os argumentos dos diferentes eixos, convidando os colegas da EBP-Rio e do ICP-RJ a nos endereçarem suas contribuições para dar vida ao debate aqui proposto.
◼ Angela Bernardes e Maria Silvia G. F. Hanna